"Eu acho tudo isso que está acontecendo positivo no macro, embora esteja sendo dificílimo no micro. Explico: todo esse ódio, toda essa ignorância, essa violência, isso tudo já existia ao nosso redor.
Agora é como se tivessem tirado da gente a possibilidade de fingir que não viu.
Caíram as máscaras. O Brasil é um país construído em bases violentas, mas que acreditou no mito do 'brasileiro cordial'.
Um país que deu anistia a torturadores e fingiu que a ditadura nunca aconteceu.
Que não fez reparação pela escravidão e fala que é miscigenado e não é racista.
Nós fechamos muitas feridas históricas sem limpar e agora elas inflamaram.
Estamos sendo obrigados a ver que o Brasil é violento, racista, machista e homofóbico.
Somos obrigados a falar sobre a ditadura ou talvez passar por ela de novo.
Estamos olhando para as bases em que foram construídas nossas famílias e dizendo 'Essa violência acaba em mim. Eu não vou passar isso adiante.'
Como todo processo de cura emocional, esse também envolve olhar pras nossas sombras e é doloroso, sim, mas é o trabalho que calhou à nossa geração.
O lado positivo é que, agora que estamos todos fora dos armários, a gente acaba descobrindo alguns aliados inesperados.
Percebemos que se há muito ódio, há ainda mais amor.
Saber que não estamos sós e que somos muitos, nos deixa mais fortes.
Precisamos nos fortalecer, amores.
Essa luta não é dos próximos 15 dias, é dos próximos 15 anos.
Mais: É A LUTA DAS NOSSAS VIDAS.
Não cedam ao desespero.
Não entrem na vibe da raiva. Não vai ser com raiva que vamos vencer a violência.
E se preparem, tem muito chão pela frente".