Em meio a reação ao golpe fracassado de 8 de janeiro surge a proposta de uma CPI no Congresso. Até o momento se empurra com a barriga para fevereiro. CPI que ardilosamente pode se tornar instrumento de relativização do golpe.
Basta se pensar na composição das casas com maioria conservadora e com um setor abertamente fascista, que em algum momento procurará reduzir o ímpeto do STF, da polícia judiciária e do Ministério da Justiça e de procuradores que se rebelam contra a inércia criminosa da Procuradoria Geral, ainda em mãos do engavetador universal.
A rigor, o que há para se “investigar”, a não ser as provas que os golpistas fizeram contra si e que se aproximam perigosamente de quem urdiu o golpe, planejou, financiou ou se omitiu na Intentona fascista: militares de alto escalão, empresários (principalmente do setor agrofascista) e, por evidência, de Bolsonaro e a quadrilha familiar, além de deputados a confraternizar alegremente dia 8 com a ralé fascista.
Para a imprensa burguesa empresarial há a perspectiva de colaborar na relativização dos fatos e de se deter nos atos mais escandalosos – o quanto obras de arte foram cagadas – tudo em nome da objetividade, é claro. Ou se deter em personagens secundárias, como um coronel reformado gritando palavrões aos generais da ativa, ardilosamente nos bastidores. O suficiente para ocultar responsabilidades do alto comando do exército. Onde andam Braga Neto, Ramos e Heleno, só para recordar os mais notórios? Além da proteção da família militar nos acampamentos. Qual a responsabilidade do atual comandante do Exército?
A proposta de GLDO, sugerida a Lula, foi absolutamente escandalosa e é forte indício de conluios. O Executivo e o Poder Judiciário tem mecanismos suficientes de investigação e repressão dentro dos limites constitucionais. Uma CPI será um elemento complicador na vida de um governo que tem apenas 16 dias e que precisa antes de tudo governar, reconstruir o país.
Carlos R. Wincler é Sociólogo. Graduado em Letras e Direito, com especialização em Mídia e Sociedade.